Sou revolucionário. Sou professor.

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É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz,

de tal forma que, num dado momento,

a tua fala seja a tua prática.

Paulo Freire

 

Desde a minha adolescência tenho essa mania de não aceitar as coisas erradas, de não concordar com abusos e desmandos, de me indignar com a corrupção, de me erguer contra as inúmeras injustiças que assistimos no dia a dia,  “em tudo e em todo lugar”,  parafraseando Vandré.

Em 1964, quando eu tinha 10 anos, o País sofreu um golpe militar que nos levou a um estado de exceção em que desmandos e descalabros foram cometidos sem que ninguém pudesse dizer ou fazer nada impunemente.

Por não concordar com esse estado de exceção e por achar que tínhamos todos que buscar maneiras de reverter essa situação, me insurgi e recebi o rótulo de revolucionário. Muitas coisas foram feitas às escondidas, muitas vezes tive que fugir para não ser pego pela ditadura e, passados 21 anos, pude ver, ao lado de inúmeros companheiros, a democracia ser restabelecida.

Mas o gen de revolucionário não deixou de existir. Muitas coisas ainda tinham (e tem) que mudar, muitos horrores ainda eram (e são) cometidos e para complicar, além das mazelas nacionais, com a chegada da globalização passei a me revoltar também com as mazelas globais. Ontem mesmo dizia em sala de aula que se passarmos os próximos mil anos nos desculpando com o continente africano, ainda não seria o suficiente. Por que? Perguntou uma aluna. Por assistirmos calados e impassíveis a todos os absurdos que se cometem no continente há séculos, por todos aqueles que têm interesses econômicos e escusos nas riquezas naturais da Mama África, lançando a população em uma realidade de miséria absoluta inadmissível.

Mas, voltando ao meu espírito revolucionário (ou de porco para alguns), nunca sosseguei. Continuava aquele incômodo, aquela vontade imensa de mudar o mundo, de torna-lo melhor para todos, de acabar com as injustiças.

Ao mesmo tempo aquela sensação de impotência, de não saber como, de lutar só, de incapacidade.

O tempo foi passando e um dia me encontrei dentro de uma sala de aula, ensinando. Passado o tempo, o que era um bico foi se tornando importante, importante e importante, até que um dia, recentemente, me vi, pela primeira vez, professor, ao descobrir que dava aulas há 16 anos.

E melhor, descobri também que me sinto bem dando aulas, ensinando/aprendendo, permutando conhecimento.

Não gosto quando vêm com aquela história de que professor é um santo, não é uma profissão é uma devoção e outras bobagens que inventam para poderem pagar os salários que pagam. Mas, se insistirmos e persistirmos, chegará um dia em que seremos remunerados por sermos os profissionais competentes e capacitados que na verdade somos. Aliás, como todos deveriam ser.

Outra coisa que descobri, em sendo professor, é que nunca, em momento nenhum de minha vida eu havia sido tão revolucionário. Sim, porque a verdadeira revolução, aquela consistente, aquela duradoura, aquela com alicerces firmes e fortes virá de dentro das salas de aula.

A grande e necessária revolução se dará pela educação de qualidade para todos e em todos os níveis e nisso temos, eu e muitos outros companheiros, nos esmerado revolucionariamente.

Senhoras e senhores, a revolução está em curso. Em cada escola, em cada sala de aula, no coração de cada professor sério e comprometido, no coração de cada aluno interessado em aprender.

E de minha parte posso dizer:

Sou feliz, sou revolucionário, sou professor!

 

Parabéns a todos os meus colegas.

 

 

Carlos Freire é graduado em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo, especialista em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas e MBA pela Amana Key de São Paulo. Especialista em Educação Ambiental e Mestre em Ciências do Ambienta e Sustentabilidade da Amazônia. Atualmente é Diretor Executivo da Assessoria Comunicação e Marketing em Manaus AM e professor universitário. http://www.marketingenatureza.com.br