Marketing, pra quê?

11 de setembro

Marketing, pra quê?

Artigo publicado originalmente em www.cabugi.com em 23/09/2002

 

Passados 12 anos dos atentados às Torres Gêmeas, USA, percebemos que muito pouca coisa mudou na ordem mundial. O desastre que deveria ter servido para uma grande reflexão e transformado em marco inicial de grandes mudanças configurou-se apenas como justificativa para todos os descalabros que se cometeram a partir dele. De nossa parte continuamos na expectativa de que, a qualquer momento, a humanidade acorde para a necessidade de parar esse ritmo frenético em que vive e refletir sobre o futuro. O nosso futuro.

Manaus, 11 de setembro de 2014.

 

Desculpem-me os leitores mas não falarei sobre marketing esta semana.

Tenho pra mim que quando um grupo de pessoas, deliberadamente, pega alguns aviões cheios de gente e joga-os contra lugares também cheios de gente, matando milhares de pessoas, ferindo outras tantas e abrindo mão da própria vida, tudo perde o sentido. Marketing, pra quê?

Quanticamente sinto que, de alguma forma, eu estava pilotando aqueles aviões e cometendo atentados, como sinto também, que quanticamente, aqueles aviões entraram pela minha janela e mataram um pouco de mim ou um muito.

A única lição positiva, possível de se colapsar a partir do fato, é a necessidade do exercício da reflexão. Tudo está errado, em todas as relações que se mantém ao redor do mundo. Os terroristas gritaram isso pro mundo, da maneira estúpida que foram capazes.

Ao invés de retaliação, acredito que deveríamos partir para a realização de um enorme Fórum Mundial de Reflexão, que ao término nos apontasse novos caminhos, novas ordens econômicas, novos valores sociais, novas relações de trabalho, novas, novas, novas…

Quando vejo o presidente dos Estados Unidos da América falar em retaliação, em bombardeio, em vingança, até consigo compreender. Ele já deu provas, em outras oportunidades, da mediocridade de seu pensamento. O que impressiona mesmo é quando um negro americano fala as mesmas coisas, esquecendo-se de quantos aviões caem sobre ele, todos os dias em todas as situações.

Mesmo a origem dos atentados é absurda, baseada no fanatismo religioso. Tudo se faz em nome de deus, seja lá quem for esse deus. Esquecem-se todos do livre arbítrio e da total responsabilidade que temos pelos nossos atos e que não podemos, em nenhuma situação, transferi-la para um poder maior e assim ficarmos isentos e liberados para todas as práticas.

O plano de ação foi perfeito. A logística foi perfeita. Como ninguém eles conseguiram (negativamente) surpreender o cliente.

Estrategicamente eles, os terroristas, se equivocaram. Com sua ação transformaram os opressores em vítimas e justificaram, por antecipação, todas as atrocidades que se prenunciam.

 

Em tempo:

 

“(…) em um instante 80 mil pessoas morreram e a maior parte da cidade desapareceu. (…) quatro dias depois uma segunda bomba matou 40 mil habitantes. (…) moradores próximos ao marco zero foram pulverizados, deixando para trás sombras carbonizadas. Sobreviventes morreram logo em seguida. A radiação destruía seus corpos. Dosagens menores de radiação

provocavam várias formas de câncer e defeitos de nascimento(…) houve cerca de 140 mil mortos nos anos seguintes.”

Hiroshima, 6 de agosto de 1945, em defesa da democracia.

 

“(…) ao completar uma marcha de 320 quilômetros para o mar. Mahatma Ghandi chegou a Dandi, na costa oeste da Índia, e ilegalmente colheu sal do oceano.(…) Seu gesto dramático iniciou uma segunda campanha nacional de desobediência civil.”

Dandi, 6 de abril de 1930, em busca da liberdade.

 

“ Existe um momento, que só acontece raramente na história, em que saímos do velho e entramos no novo, quando termina uma era e a alma de uma nação, há muito oprimida, encontra o dom da palavra. (Jawaharlal Nehru primeiro premiê da Índia Livre)

Nova Delhi, 14 para 15 de agosto de 1947, meia noite, a vitória da resistência civil.

 

“(…) durante toda sua carreira, teve um papel espiritual e político da maior importância. (…) Em 30 de janeiro de 1948, Ghandi tornou-se vítima da violência que tanto repudiara: foi assassinado por um fanático hindu…”

Índia, 30 de janeiro de 1948, em nome do fanatismo político e religioso.

 

Enquanto isso, tanto amor é incompreendido, desperdiçado, postergado, deixado para amanhã ou para nunca.

 

Marketing, pra quê?!

 

 

Carlos Freire é graduado em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo, especialista em Marketing pela Fundação Getúlio Vargasl, APG Amana Key de São Paulo, especialista em Educação Ambiental pelo SENAC, mestre em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia. Atualmente é professor universitário e Diretor Executivo da Assessoria Comunicação e Marketing em Manaus/AM.